Dia do médico. O que verdadeiramente nos motiva?

 O que é para mim ser médico?


Se o leitor retornasse no tempo, não muito tempo, cerca de 3 anos atrás e lesse um texto meu reportando o que é ser médico imaginaria que era outro autor, por conta de tão distinto ser o texto. O que mudou? Mudou em mim a ideia de ser médico? Aconteceu algo?


Retornemos um pouco no tempo para ser mais exato no dia 02 de março de 1998, aula inaugural com dr. Rodolfo Teixeira (in memorian). O relato daquele ilustre professor que olhando face a face daquele grupo de quase 80 jovens é indescritível. “Faria tudo para estar no lugar de vocês, começando tudo de novo!” Hoje entendo perfeitamente o que tentava nos dizer e que, certamente, não compreendemos com a devida profundidade naquela época, alguns ainda hoje não entendem. Pouco mais de uma semana depois outra personalidade incrível da medicina baiana repetia, ao seu modo, palavras semelhantes. Dra. Maria Tereza Pacheco (in memorian), primeira médica legista do Brasil, também nos revelou que ser médico era muito mais do que aquela formação que estávamos iniciando ali. “Não há ninguém que se sinta mais ‘doutores’ que vocês e aqueles que terminam o doutorado” afirmou na sua primeira aula ao lado daquele que seria futuramente o nosso paraninfo na formatura, dr. Antônio Nery Filho.



Somente com esses nomes não precisaria muitas palavras para dar uma pequena, mas significativa dimensão, do que é ser médico e do valor que tais profissionais tem na nossa formação humana, ética e científica. Porém gostaria de descrever a minha concepção também, longe de me comparar com os mestres citados.


Na Faculdade de Medicina tivemos muitos bons exemplos, outros poucos nem tanto. E o maior exemplo, como afirmam, vem daquilo que é verdadeiramente demonstrado, ou seja, de fato do EXEMPLO, não apenas do FAÇA ISSO. Ao sair do período de formação universitária vivenciamos outra realidade, bem distinta do ambiente “protegido” presente na faculdade. É o mundo real, a vera, a pura realidade a ser vivida muitas vezes sozinho. Nunca o conceito da “mente mestra” foi tão significativo como a partir daquele momento, ou seja, se não teve pessoas que acrescentam a sua formação, não apenas fornecendo informações, mas também orientando como buscá-las, julgá-las e saber quando e qual decisão tomar, estamos fadados ao que denomino ostracismo do conhecimento. Seremos repetidores sem julgamento crítico, bem distinto dos professores mestres.


A residência médica foi um período em que “mentes mestras” ainda estavam presentes e da mesma forma nos orientavam a sermos melhores. “Ela não pediu para ficar doente, optamos em tratá-la, vem a complicação do tratamento, desistimos dela? O que motivou iniciarmos o tratamento não está mais lá?” Perguntas como essas do dr. Reinaldo Dal Bello eram recorrentes e nos faziam sempre lembrar dos princípios que devemos buscar no exercício da medicina: beneficência, não-maleficência, autonomia do paciente e a justiça.



Após concluída residência médica  estamos verdadeiramente sozinhos e, de fato, me senti muito sozinho em muitos momentos. Exatamente nesses momentos que começamos a enxergar o lado meio vazio do copo da medicina acumulando notícias ruins, cansaço, a falta de reconhecimento, rotina estressante, entre outras coisas. Porém, apesar de saber que isso tudo existe, passei a observar o lado meio cheio do copo, e não teria sido assim se não tivesse mentes mestras. Como fazer isso com tudo de ruim que acontece? 


  • Sorria e reconheça o valor do sorriso, como afirma Dale Carnegie no seu mais famoso livro (Como fazer amigos e influenciar pessoas) “Ações falam mais alto que palavras e um sorriso diz: ‘Gosto de você. Você me faz feliz. Estou satisfeito por vê-lo.’
  • Ouça mais e fale menos, isso é bíblico! Médico tem que ouvir, “Quem guarda a sua boca guarda a sua vida, mas quem fala demais acaba se arruinando.” Provérbios 13: 3
  • Palavras como bom dia, por favor e perdoe-me, desarmam qualquer tentativa de desestabilizá-lo. Se mesmo assim a situação adversa prossegue, faça seu trabalho como sempre faz, sem distinção.
  • Plante coisas boas, para colher bons frutos. Isso vale para tudo na vida, inclusive para ser médico. Médico sem ter colegas com quem contar na hora da dúvida e de uma ajuda, continuarão sozinhos.
  • Devemos nos cercar de quem é uma boa influência, como diz o Jim Rohn, que foi mente mestra de diversas pessoas de sucesso, “cerque-se de pessoas que têm algo de valor para compartilhar com você. O impacto deles continuará a ter um efeito significativo em sua vida quando eles se forem.”
  • “A felicidade não é por acaso, mas por escolha,” também do Jim Rohn
  • Não procure motivadores externos, a verdadeira motivação deve estar no nosso interior, fazendo aquilo que gosta. Como diria Confúcio, "Escolha um trabalho que você ame e não terás que trabalhar um único dia em sua vida.”

Hoje tento buscar o conhecimento que agrega valor a minha jornada, que permitirá no futuro eu deixar um legado verdadeiro, para aqueles com quem me importo. Deixo ao valor da insignificância o que de fato somente me fará perder tempo e pessoas que não me importo, pelo mesmo motivo. E o tempo…, o tempo é muito valioso para discutirmos sobre inutilidades e com quem não acrescenta absolutamente nada. E foi assim que comecei a ter de volta a motivação que tinha sido reduzida há alguns anos atrás do real valor de ser médico. Deus deu-me a possibilidade de ser o que sou hoje, e sou muito grato a ter tido oportunidade de ter me formado, ter tido pais que me incentivaram, mentes mestras inspiradoras, esposa companheira de jornada, colegas amigos, pois nada seria sem esses apoios fundamentais. E claro, ... a motivação está dentro de nós mesmos.


“Muito fácil falar, mas eu queria que você tivesse ou fosse….” Antes que complete a frase deixo a seguinte dica para aqueles que somente veem os problemas. - Foco na solução, reconheça que o problema existe, mas busque como resolvê-lo, apenas falar não o fará deixar de existir. 


Feliz dia dos médicos, sem aqueles clichês que aparecem a todo momento.


O conceito da mente mestra (mastermind) foi criado por Napoleon Hill, no seu livro A lei do triunfo afirma que a união de duas mentes fornece resultados superior ao que seria cada uma isoladamente. Isso também é relatado no trecho bíblico: "Um homem sozinho pode ser vencido, mas dois conseguem defender-se. Um cordão de três dobras não se rompe com facilidade." (Eclesiastes 4:12) Aqui segue o link se tiver interesse no livro. Esse conceito apesar de ser muito difundido no mundo corporativo pode ser expandido a diversos campos do conhecimento, a medicina não é diferente.

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